Morro de São Paulo x Recife.
Sábado 04/09
Pela manhã acabamos de tirar o resto que dava da rede, à tarde arrumamos o barco para a viagem.
Levantamos a ancora as 18 horas, as 18:40 já tínhamos deixado Morro de São Paulo pela popa.
Logo que saímos de Morro, o vento era sudeste, perfeito para a viagem, o mar estava bem mais calmo, quando deu 21 horas o vento virou para nordeste, e nos atrapalhou bastante.
A lagosta rendeu! Jantamos maionese de lagosta!
Até Salvador foi tudo muito tranquilo, tínhamos o objetivo de se afastar o máximo possível do continente, por isso quase não avançamos em direção ao norte.
A uma da manhã ainda era possível ver o farol de Morro de São Paulo piscando bem longe.
Domingo – 05/09
Acordei bem cedo, antes das 6, fiquei surpreso e até um pouco decepcionado em ainda conseguir ver os prédios de salvador, mesmo que bem distantes, quase sumindo no horizonte.
Durante as primeiras horas da manhã andamos certinho em direção ao sol nascendo. A impressão de que iriamos atravessar o sol.
O dia estava muito bonito, fez sol o dia todo, o vento fresco dava uma sensação térmica agradável.
O motor estava ligado desde que partimos, e mesmo assim nos arrastávamos a menos de 4 nós, o vento virou para leste, mas soprava bem fraco. Nessa hora comecei a fazer as contas e vi que se continuasse assim levaríamos uma semana para chegar até Recife. Para passar o tempo e tentar arranjar uma solução, peguei a carta náutica do nordeste e procurei algum lugar para pararmos até que o vento melhorasse. Achei Maceió uma boa opção, fica 115 milhas ao sul de Recife.
Mas tudo estava bem demais para ser verdade... No final da tarde quebrei o bracket do aparelho, não acreditei.
Só desligamos o motor as 17, o por do sol foi um dos mais bonitos de toda a viagem, quando caiu a noite o céu estava totalmente limpo, sem uma nuvem, o único barulho que escutávamos era o da água passando pelo casco, peguei o celular, o fone de ouvido e um casaco. Deitei no convés perto do mastro, coloquei um reggaezin pra tocar... Esse momento não teve preço! Só sai dali quando a bateria do celular acabou.
Depois das oito da noite o vento passou a nos ajudar, havia muitos navios. Durante a noite o nosso maior problema foram os barcos pesqueiros. A maioria deles tinha uma luz bem forte no convés ofuscando as luzes de navegação (bombordo, boreste, etc) dificultando avaliar sua posição e para onde se deslocavam no momento.
Segunda – 06/09
Estávamos a menos de 50 milhas de Aracaju, e a 35 milhas da costa. As 7:30 entrou um vendaval, o pessoal da região chama de “Pirajá”, é uma espécie de tempestade local com ventos muito fortes mas de pouca duração. O barco rapidamente dobrou de velocidade, se continuasse assim o tempo todo iriamos chegar a Recife em pouco mais de 24 horas.
As 9 horas o vento acabou de vez, da mesma rapidez que ele veio ele foi embora, e mudou para a única angulação que não podia, ligamos o motor novamente e alteramos nossa rota em 40°. Traçamos uma nova rota que não fosse tão prejudicial para nós, ajustamos as velas e voltamos a navegar. Nessa hora me lembrei de uma frase de William George Ward, “O pessimista se queixa do vento, o otimista espera que ele mude e o realista ajusta as velas.”
Por volta das 10 cruzamos a divisa. Estávamos em Sergipe.
As 10:30 a historia se repetiu, formou-se muitas nuvens escuras que se aproximaram rapidamente, e começou a ventar bastante novamente.
A pior de todos os “Pirajás” até o momento aconteceu as 14:30. O tempo fechou de vez, começou a chover forte, parecia que já tinha anoitecido. Os ventos passaram facilmente de 50 km/h, o barco navegou o tempo todo com o costado de bombordo dentro da água, ouvimos um forte barulho que ecoou no casco de alumínio do wa wa too, o capitão me perguntou o que havia acontecido, eu não fazia mínima ideia. Subi para o convés. os dois botes infláveis que estavam na proa se soltaram com uma onda que arrebentou bem encima deles, por pouco não caíram na água. Fui até a proa para amarra-los novamente antes que outra onda os levasse. Claro que fiquei todo molhado, ou melhor encharcado. Na volta pequei a coitada da Lhama que estava lutando para não cair na água.
O barco estava tão adernado que era praticamente impossível ficar de pé!
A tempestade chegou quando não tinha ninguém no convés, o capitão e eu estávamos almoçando na hora, depois dos primeiros 15 minutos os ventos diminuíram um pouco, mas só um pouco.
Duas horas depois veio outro vendaval. O capitão falou para fecharmos uma vela que essa parecia ser a pior de todas. Não deu tempo, só nos restava esperar ela passar.
40 minutos depois ela nos venceu, folgamos as velas e conseguimos fechar uma das velas.
As 19:30 estávamos na foz do rio São Francisco, e alguns minutos depois já estávamos em Alagoas.
Aquela havia sido a noite mais escura de todas, as únicas luzes que víamos era na verdade os plânctons brilhando ao passar pelo casco.
O vento só diminuiu depois das 2 da manhã.
E para finalizar o aparelho que transforma a energia para 110 volts parou de funcionar, tive que carregar o celular no pc. O problema era que o computador estava com pouca bateria.
Terça – 07 de setembro
Acordei 6:20 com o capitão desligando o motor, o vento estava começando a ganhar força novamente. O céu estava nublado e chovia um pouco e até fazia frio. Meia hora depois veio a primeira “Pirajá” do dia, confesso que já estava sentindo falta de um solzinho!
Faltava menos de 10 milhas para chegarmos em Maceió. Graças a essas “mini tempestades” avançamos 236 milhas nas ultimas 24 horas.
As 10h30min estávamos passando por Maceió, a 20 milhas da costa. Durante todo o dia pegamos cinco “Pirajás”.
Um fato que me chamou a atenção foi que de Salvador até Recife não pegamos nenhum peixe, mas deixamos 2 escapar. Um deles escapou a menos de 5 metros da popa do barco.
Às 18 horas alcançamos a Longitude de Recife (34° 50 00’), mas ainda faltava 1 grau, ou 60 milhas até chegarmos.
Entramos nas águas de Pernambuco as 21 horas.
Quarta – 08 de Setembro.
Chegamos em Recife as 6 horas da manhã, ancoramos do PIC (Pernambuco Iate Clube)
As 10 já tínhamos abastecido o barco e estava tudo pronto para zarpar a hora que quiséssemos. Tiramos o dia para conhecer a cidade.
No total foram quase 450 milhas e 85 horas navegadas.