Chegou o grande dia. 25 de setembro, largada da REFENO.
Nossa classe foi a primeira a largar, as 14:40, mas como tivemos alguns problemas perdemos a largada do nosso grupo e as regras só nos permitiu partir após todos as grupos largarem, ou seja, largamos as 17 horas.
O vento forte favoreceu o WA WA TOO, pouco a pouco fomos ultrapassando os outros barcos. O mar estava bem agitado e o vento ficou próximo dos 20 nós.
Nossa tripulação não era muito experiente, estávamos em 5, mas só 3 sabiam velejar realmente.
A primeira noite foi emocionante, fiquei no timão até às 2 da manhã, só fui dormir depois de ter passado todas as “luzinhas” que estavam a nossa frente, essas “luzinhas” na verdade era outros veleiros. A lua cheia nos acompanhou madrugada adentro.
Dia 26 de setembro – Domingo
Quase não dormir, quando deu 4:15 eu já estava acordado no timão, comecei o dia com o sol nascendo entre as nuvens no horizonte. Já não avistávamos nada, muito menos outros barcos. Começamos a fazer as contas e se continuássemos navegando daquele jeito subiríamos no pódio com certeza, mesmo largando 2 horas depois dos outros barcos.
O vento aumentou bastante durante todo o dia, o barco navegava a 9 nós de média, chegando a 16 nós nas rajadas de vento, isso marcado no GPS.
Tirei a tarde para descansar e só voltei para o timão por volta das 17 horas, 10 minutos depois subiu uma onda bem grande ao nosso lado, e quando fui diminuir a angulação do barco e relação a onda para diminuir o impacto o timão não respondeu. Perdemos a roda de leme, o barco girou rapidamente em direção a leste e nós não tínhamos mais controle algum sobre o barco, mas ele continuou navegando assim mesmo, porem agora navegávamos para uma direção 90° direita da nossa rota.
Nossos dois tripulantes sem experiência se apavoraram, foi uma cena podemos dizer que cômica quando escutaram eu dizer “perdemos o leme”. Mas é cômica agora, na hora nem o capitão acreditou, estávamos a mais de 120 milhas de Noronha e 190 milhas de Recife. O lugar mais próximo era Natal. Só que nós também estávamos a 95 milhas da costa.
Começamos a desmontar a roda de leme, vimos que uma corrente estava fora da catraca, colocamos no lugar na mesma hora, mas o problema não era assim tão fácil de resolver. Abrimos um compartimento para ter acesso ao sistema do leme. Um cabo de aço que controla todo sistema se solto das polias e o quadrante do leme por onde passa esse cabo e o piloto automático rachou. Na situação que estávamos era impossível consertar. A solução foi fazer um leme de fortuna (significa sorte em francês... já da para imaginar porque né?!), Usa-se a expressão "leme de fortuna" para designar qualquer objeto que substitua o leme no caso da perda deste, de forma a impedir que a embarcação fique à deriva. Depois de duas horas á deriva reassumimos parcialmente o controle do barco, mas confesso que era muito difícil controlar o barco através de cabos, pelo menos voltamos a navegar e estávamos no rumo certo novamente. Só que agora nossa velocidade era de seis nós, e ainda tinha mais de 110 milhas pela frente.
Minha esperança de ganhar uma medalha foi por água abaixo, agora tudo que eu queria era chegar logo em Noronha.
A noite foi terrível, controlar o barco com cabos ao invés da roda de leme era desanimador. Sem falar que a pele da mão foi embora logo nas primeiras horas!
Mas no final tudo deu certo, cruzamos a linha de chegada exatamente às 13 horas, 54 minutos e 35 segundos da segunda feira 27 de setembro. Completamos o percurso de 315 milhas em 45 horas. E para nossa surpresa muitos barcos chegaram depois da gente. Fomos o 13° barco da nossa classe a cruzar a linha de chegada.
Segundo a organização, dos 150 veleiros inscritos só 96 chegaram, muitos desistiram ao ver a força dos ventos e o tamanho das ondas que passavam dos cinco metros o voltaram para Recife logo nas primeiras 30 milhas. 31 veleiros foram resgatados pelo rebocador e pela fragata da marinha que nos acompanhou por todo o percurso.
Apesar de tudo a experiência foi incrível, Fernando de Noronha é um lugar muito bonito e recomendo a todos conhecer esse pedacinho do Brasil.